A Raízen prevê elevar a moagem de cana em 2023/24 (abril a março) para cerca de 80 milhões de toneladas, ante 74 milhões de toneladas previstas em 2022/23, após investimentos ao longo dos últimos três anos, afirmou à Reuters o diretor financeiro e de relações com investidores, Carlos Moura.
O executivo pontuou que a empresa, maior processadora global de cana, expandiu a área de plantio e que está otimista em relação aos resultados do próximo ano-safra, após indicar que a moagem no ciclo atual 2022/23 cairá ante o anterior.
No segundo trimestre da safra, a Raízen processou 33 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, redução de 12% em relação ao volume processado no ano-safra anterior, segundo balanço financeiro da empresa.
Essa redução, explicou a companhia, reflete os efeitos do clima em parte dos seus canaviais resultando na menor disponibilidade de cana neste ano. A Raízen processou 76,1 milhões de toneladas da matéria-prima de açúcar e etanol em 2021/22 e 88 milhões de toneladas em 2020/21.
“Vamos encerrar um pouco mais tarde (a moagem em 2022/23). Na verdade, foi um deslocamento no tempo, então o volume que iria para um ano-safra vai passar para o outro”, disse Moura, em uma entrevista por videoconferência.
A moagem no Centro-Sul do Brasil começou mais tarde em 2022/23, com usinas aguardando a recuperação dos canaviais após a seca do ano passado. E, mais recentemente, o tempo chuvoso colaborou para um alongamento da safra, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).
No acumulado dos dois trimestres da safra, a Raízen processou 59,3 milhões de toneladas, queda de 13,4% na comparação anual.
A destinação de cana para a produção de açúcar e etanol está 50% para cada commodity no acumulado da safra da Raízen, com a companhia indicando que o quadro de oferta e demanda do adoçante está favorável para as usinas.
“Mas a gente está brincando aqui entre a gente, que a gente vai comprar vassoura para varrer depósito e armazém para tirar açúcar e poder vender”, disse o executivo.
A produção de açúcar no trimestre somou 2,44 milhões de toneladas, queda de 11% na comparação anual, enquanto a de etanol atingiu 1,39 bilhão de litros (-9,7%).
Moura avaliou que a empresa “está conseguindo rendimentos agrícolas e industriais bastante sólidos”, ajudando a compensar a queda da moagem.
Ele reconheceu que o ano não foi tão bom para os canaviais, especialmente por favores climáticos, mas ressaltou que tem expectativa “bastante positiva” para o próximo ano, “por tudo o que temos feito ao longo dos últimos três anos para o desenvolvimento do nosso potencial agrícola”.
A Raízen afirmou na véspera que registrou um aumento no volume de negócios no trimestre passado, como consequência da ampliação da exportação de etanol e açúcar, expansão de seu portfólio de renováveis e investimentos em novos negócios, fortalecendo sua plataforma integrada de energia.
A empresa, uma joint venture da Cosan e da Shell, registrou receita líquida de R$ 64,2 bilhões, 32% a mais que o mesmo período do ano anterior.
A geração de caixa medida pelo Ebitda ajustado da Raízen, também uma das maiores distribuidoras de combustíveis do Brasil, foi de R$ 2,8 bilhões, representando um recuo de 14,1% ante igual período da safra passada, impactado pelos efeitos adversos nos estoques dos combustíveis no Brasil, refletindo a queda consistente de preços de todos os produtos.
Preços de combustíveis
Para o setor de combustíveis, Moura destacou que a Raízen vê margens sustentáveis, não importa o cenário de preços da Petrobras, pois conta com uma infraestrutura robusta para atender aos seus clientes, a partir de contratos com a petroleira estatal ou com importações.
“Nós temos hoje 400 navios afretados em favor da Raízen. Essa potência que a gente tem de logística dá para a gente diversificação de risco no suprimento de derivados, tanto para o Brasil quanto para a Argentina quando necessário”, afirmou.
“A gente vai sempre trabalhar com margens sólidas”, afirmou o executivo. “A gente se articulou para ser resiliente em qualquer cenário, mais importações ou menos importações”.
Questionado, ele comentou que vê os preços da Petrobras hoje “um pouco abaixo do mercado internacional”, mas pontuou que vê atualmente a estatal mais fortalecida em termos de governança corporativa.
“Importante entender que a Petrobras tem uma política e governança muito diferente do que no passado. Vimos ao longo do governo Bolsonaro tentativas de interferência, e a Petrobras manteve a consistência de sua política”, afirmou.
Moura comentou ainda planos que vêm sendo abordados pelo novo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de buscar a expansão do parque de refino no país. Ele pontuou que a construção de novas unidades deverá levar tempo, e que a Raízen não tem como uma de suas prioridades de capital investir em refinarias.
O executivo disse ainda que a Raízen está atenta a eventuais oportunidades relacionadas a negociações envolvendo a rival BP Bunge, mas evitou dar mais informações sobre o tema.
“É óbvio que como líder do mercado eu tenho que olhar”, mas pontuou que “não comenta sobre operações que estão sob acordo de confidencialidade”.
Fonte: Novacana