Em ano atípico, balança do agronegócio bate todos os recordes

Oito produtos já atingem receitas superiores a US$ 5 bilhões cada um de janeiro a agosto.
O agronegócio brasileiro exporta menos, mas recebe muito mais. De janeiro a agosto, oito produtos da balança comercial agrícola conseguiram entrar na lista de exportações com receitas acumuladas superiores a US$ 5 bilhões cada um.

Isso ocorre porque a oferta de produtos se retraiu, em alguns casos, e a demanda se intensificou ainda mais por causa das dificuldades internacionais de abastecimento. A Guerra da Ucrânia é um dos motivos, mas não o único.

Estoques baixos, seca nos principais países agrícolas e produção menor impulsionaram os preços, elevando as receitas dos exportadores. O real fraco é mais um incentivo às exportações.

No ritmo atual, a balança comercial brasileira deverá superar os US$ 145 bilhões durante o ano. Não será fácil esse cenário se repetir em 2023, a menos que a oferta mundial de alimentos continue em queda, devido a clima e problemas geopolíticos.

O normal será uma boa safra mundial no próximo ano, mas ainda suficiente apenas para reequilibrar os estoques, que estão reduzidos. Com isso, os preços devem se acomodar, mas não em patamares tão baixos.

A soja brasileira é um caso típico do que ocorre neste ano. O país exportou 66,7 milhões de toneladas da oleaginosa nos oito primeiros meses deste ano, um volume 8% menor do que o de 2021. As receitas com o produto, no entanto, atingiram o recorde de US$ 39 bilhões, 23% a mais do que as do ano passado.

O complexo soja, que inclui as exportações da soja em grão, do farelo e do óleo, devido aos preços elevados no mercado internacional, já atingiu a marca de US$ 49 bilhões neste ano, 29% a mais do que de janeiro a agosto de 2021.

A balança comercial do agronegócio está aquecida também por causa das carnes. O volume colocado no mercado externo no período subiu 8%, mas as receitas, considerando apenas as proteínas "in natura", já atingem US$ 15,4 bilhões, 33% a mais do que em 2021.

O destaque fica para a carne bovina que, em agosto, bateu o recorde mensal de exportações, somando 203 mil toneladas. O maior volume, até então, tinha sido registrado em setembro do ano passado, quando as vendas externas somaram 187 mil toneladas.

As exportações da carne bovina "in natura" acumulam 1,3 milhão de toneladas no ano, com receitas de US$ 8 bilhões. As de frango somam US$ 5,97 bilhões; e as de porco, US$ 1,5 bilhão.

Café e milho, produtos que foram afetados por geada e seca no ano passado, também entraram no clube dos US$ 5 bilhões neste ano. As exportações de café, embora tenham caído 11% em volume neste ano, obtiveram receitas 56% superiores às do ano passado.

O milho, cujas exportações já somam 18 milhões de toneladas, um volume próximo do de todo o ano passado, está com rápida recuperação, após a queda das vendas externas em 2021.

As receitas com açúcar cresceram 25%, somando US$ 6 1 bilhões. A evolução do volume exportado, no entanto, é superior à das receitas, diferentemente do comportamento de outros produtos.

Fora do grupo dos alimentos, a celulose também chega aos US$ 5 bilhões neste ano. O valor supera em 22% o de janeiro a agosto de 2021 (Folha de S.Paulo, 2/9/22)